segunda-feira, maio 06, 2013

Uma Verdade Incómoda, de John Le Carré



O novo livro de John Le Carré, "Uma Verdade Incómoda", dificilmente deixa espaço para a esperança. A desolação é provavelmente o sentimento que prevalece no fim, perante a enorme incompetência e a inevitável e consequente maldade de quem nos governa guiado por interesses obscuros.
Para John Le Carré, que como confessa, sabe bem o que o leitor há-de sentir no momento em que fecha o livro, a explicação deve-se a uma aguda falta de esperança. "Continuo à procura dela (da esperança) para perceber onde é que os meus filhos e netos irão viver. A grande desvantagem de ser velho é perceber que pouco ou nada muda".
Crítico de Tony Blair, por ter levado "um país para guerra a partir de falsos pressupostos", Le Carré também não pouco críticas a Thatcher, e ao legado que ela deixou: "Quando comecei a escrever, na Guerra Fria, tínhamos de saber que não estávamos do lado errado, e sabíamos isso. Continuo a saber de que lado estou, mas cresci até um estado de cepticismo perante os políticos". Sentimento, que John Le Carré partilha com o homem comum: "Não temos fé nas autoridades, nos políticos, no serviço nacional de saúde ou na polícia".
"Uma verdade Incómoda", é de resto um dos seus romances mais autobiográficos, metáfora de uma corrida à guerra do Iraque e das mentiras que a antecedem.
Para o romance criou duas versões de si próprio, dois homens que apesar de terem cerca de 30 anos de distância têm em comum algo primordial no universo do escritor, uma ética rigorosa: "Serviram o seu país com lealdade até não aguentarem mais e serem levados a fazer um protesto pessoal, usando canais ortodoxos."
Se o protesto parece não parece funcionar, a verdade é que o escritor defende acima de tudo o dever de protestar enquanto compromisso maior connosco e com a sociedade, nem que seja porque "Cristo também morreu na cruz!

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